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Intervenção do Presidente da República na receção aos Embaixadores de Países Árabes

Agradeço as palavras que a Senhora Embaixadora do Reino de Marrocos acaba de me dirigir, na sua qualidade de decana do grupo dos Embaixadores dos países árabes.

Gostaria por começar por vos transmitir que foi com particular satisfação que recebi a carta que a Embaixadora Karima Benyaich, em nome do grupo aqui presente, me endereçou há cerca de dois meses, transmitindo-me o desejo e empenho de cada um de vós em trabalhar com Portugal, tendo em vista o desenvolvimento e a intensificação das relações bilaterais. Estou convicto de que este nosso encontro poderá, de algum modo, contribuir para tal desígnio.

Como se recordarão, tracei, desde cedo, o objetivo de me reunir com regularidade com o Corpo Diplomático acreditado em Lisboa, de modo a manter, com todos, uma relação construtiva e um diálogo de proximidade. É, pois, com o maior gosto que vos recebo aqui em Belém.

Mas este nosso primeiro encontro pretende também ser, de algum modo, uma homenagem ao legado histórico, genético, cultural e científico dos povos árabes que cruzaram estas terras.

Fomos herdeiros dos primeiros astrolábios árabes, que em tanto contribuíram para o desenrolar dos Descobrimentos.

Somos herdeiros da “açorda”, do “açafrão”, da “alfândega”, do “alfarrabista”, algumas das palavras que vieram enriquecer o nosso léxico.

E temos um património genético muito rico e diversificado, que compreende também uma herança destes povos.

Se hoje somos o que somos, e se hoje consideramos que temos um forte pendor para a construção de pontes e para o diálogo entre os povos, isto também se deve, em parte, a esta herança árabe, que eu hoje aqui homenageio.

Pontes e diálogo. É isso que preconizamos. Não a divisão entre nós e os outros. Foi isso que pretendi sublinhar ao participar numa cerimónia ecuménica na mesquita de Lisboa, no dia da minha tomada de posse. Tratou-se apenas de um sinal, mas que me pareceu ser particularmente importante, num momento em que tem vindo a ganhar terreno uma narrativa desenvolvida por certos grupos que preconiza a divisão e o ódio.

Trata-se de uma narrativa que tem de ser contrariada. O silêncio acarreta um preço muito elevado, não só para o mundo árabe, mas também para a Europa. É tempo de usar da palavra. É tempo de dizer basta ao extremismo religioso e à violência. O tempo é agora, não depois.

Parafraseando Nelson Mandela:
“It will forever remain an accusation and a challenge to all men and women of conscience, that it took us as long as it has before all of us stood up to say ‘enough is enough’”.

Trata-se de um desafio muito grande, bem sei. Mas se não o vencermos, se não contrariarmos uma narrativa extremista das religiões, se não forem desmontados os argumentos que apelam à violência, então também não venceremos os outros desafios: os desafios securitários, os desafios dos movimentos migratórios e dos refugiados, os desafios económicos.

Este não é apenas um combate do mundo árabe. É um combate dos países árabes, da Europa e do mundo.

Este não é um combate travado com armas. É um combate ao nível das ideias, em que a palavra e a educação são o meio para construir um mundo melhor.

Por isso mesmo, destaco hoje aqui a iniciativa promovida pelo antigo Presidente de Portugal Jorge Sampaio para apoio a estudantes universitários sírios. São iniciativas destas que fazem a diferença.

“Enough is enough”.

Shukram (obrigado em árabe).