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Intervenção do Presidente da República na cerimónia de inauguração da Cidade do Futebol

Ouvimos o Senhor Presidente da Federação Portuguesa de Futebol falar-nos do júbilo com que apresenta hoje a Cidade do Futebol. E tem, de facto, razão para esse júbilo, porque concretiza um sonho seu, uma promessa sua, em tempo exíguo e com naturais ambições de futuro. Por esta sua capacidade de liderança e por esta sua pertinácia está de parabéns.

Não posso, aliás, deixar de recordar ao falar da Federação Portuguesa de Futebol os anos já longínquos de 74 a 76 em que tive a honra de integrar o elenco diretivo da Federação.

Num tempo de mudança política, de incerteza nacional, mas que de alguma maneira ajudou a fazer crescer o meu conhecimento das tarefas federativas, difíceis tarefas federativas.

Ouvimos o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Oeiras dizer-nos da alegria por enriquecer o Município com mais uma infraestrutura desportiva de excelência. E bem se justifica esta sua merecida satisfação.

Temos presente e ouvimos dar o seu testemunho o Senhor Ministro da Educação, em nome do Governo, na ausência do Senhor Primeiro Ministro. Este seu testemunho sublinha os méritos da obra e o alcance do projeto que se lhe encontra subjacente. E é natural que o Governo realce estruturas muito relevantes ligadas ao desporto português.

Cumprimento na sua pessoa o Senhor Primeiro Ministro e o Governo mas, naturalmente também saúdo na pessoa do antigo Ministro que tinha a tutela do desporto, Ministro da Presidência e Secretário de Estado o papel fundamental do Governo anterior.

O Presidente da República – que foi assistindo, diariamente, ao erguer do empreendimento – porque por aqui passava todos os dias deu consigo ontem a pensar acerca de algumas das inúmeras pistas de reflexão que a inauguração suscita.

Primeira - o peso do futebol na nossa vida comunitária, sobretudo desde os anos 30 do século passado. Como ponte entre o mundo rural a desaparecer e o citadino a afirmar-se, fator de socialização nos meios urbanos e depois metropolitanos, como forma de diálogo interclassista, mesmo em tempos e espaços de forte estratificação social, como modo de lazer numa sociedade em que ele era pouco diversificado, como meio de integração e, às vezes, de instrumentalização política, e ainda como elemento de agregação nacional.

Segunda - a durabilidade e a capacidade de renovação desse peso do futebol na sociedade portuguesa, mesmo quando algumas das facetas que o caracterizam hajam perdido, num universo empresarial e global, os traços fundadores.

Terceira - a democratização precursora que a prática do futebol por novas gerações e por camadas mais pobres ou marginalizadas representou em Portugal e que não mais desapareceria da nossa sociedade.

Quarta - a dimensão simbólica que as seleções nacionais assumiram, desde a origem, juntando além disso hino e bandeira, atravessando três regimes diversos -a República Liberal, a ditadura e a República Democrática —, e unindo os portugueses para além das suas opções de crença, de religião, de doutrina, de ideologia, de política ou até de clube.

Há momentos inesquecíveis vividos a propósito ou por causa de uma seleção nacional. Cá dentro ou numa comunidade portuguesa lá fora. Ou numa cidade ou num campo de um país irmão na língua.

Um gesto, um golo, uma vitória, uma emoção partilhada, um sofrimento sentido, uma noção de pertença espiritual que permitiu esquecer divisões, ou, por umas horas, ultrapassar agruras ou sublimar infortúnios.

Quem não recorda, pelo menos, uma meia dúzia desses instantes irrepetíveis?

É cada vez mais raro, mas ainda encontro, de quando em vez, um compatriota insensível a essas emoções, por uma predisposição intelectual, ou agnóstico perante essas sensações, por rejeição do que apelida de mercantilismo do desporto atual.

Eu admito que não seja estimulante nem a ideia de que o mundo do futebol possa ser um Estado independente da comum vivência comunitária nem a dúvida sobre a transparência de competições ou organismos desportivos internacionais.

Mas, o Presidente da República Portuguesa acredita que, em Portugal, nunca será possível nem a imunidade nem a impunidade deste como de qualquer outro domínio da vida nacional e menos ainda o esvaziamento do significado das nossas seleções como testemunhos da corajosa lisura das nossas gentes.

Por outras palavras, acompanha os milhões de portugueses, que aliás representa, e que continuam a ver nos nossos atletas - nesta como noutras modalidades - embaixadores da nossa Pátria no mundo.

É para cuidar desses Embaixadores que, larga e decisivamente, existe, Senhor Presidente, a sua e nossa Federação. Privada mas de utilidade pública. Por causa do interesse coletivo que prossegue.

Lembre-se sempre que tem nas suas mãos um quinhão importante da representação de Portugal.

É para proporcionar a estes nossos Embaixadores no mundo as melhores condições possíveis, que hoje nasce esta Cidade do Futebol que engloba desde os que se iniciam aos consagrados, das mulheres aos homens.

Lembre-se, Senhor Presidente, que os portugueses, que estão a sair de profunda crise, apenas compreenderão a nova e impressiva realidade, se ela tiver mesmo como função servir Portugal.

Pela pedagogia que faça nos mais jovens como nos mais velhos.

Pelo apelo que reforce à prática desportiva e à realização integral que ela propicie.

Pela inclusão social que fomente. Pela afirmação do nosso amor-próprio nacional que permita.

Para um País que não é rico, esta Cidade do Futebol será socialmente aceite e apreciada – e apoiada – se – como eu espero – contribuir para cultivar todos estes e outros valores.

Portugal merece acreditar mais, mas mesmo muito mais em si próprio. Seja esta Cidade do Futebol um passo inquestionável para esse reencontro nacional.

Senhor Presidente, em nome de Portugal as minhas felicitações e também os votos de que possa no futuro, em conjunto com todos os que servem o futebol nacional representando o País lá fora, possa servir Portugal e os Portugueses.