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1951-1958

Francisco Craveiro Lopes

Francisco Higino Craveiro Lopes

Nasceu em Lisboa a 12 de Abril de 1894, e faleceu também em Lisboa a 2 de Setembro de 1964.
Filho de João Carlos Craveiro Lopes e de Júlia Clotilde Cristiano Craveiro Lopes. Uma família de tradição militar. O pai foi combatente na Flandres e prisioneiro em La Lys, durante a I Grande Guerra, militar do regime do Estado Novo, exerceu funções de governador-geral da Índia e de comandante da l.ª Região Militar. Casou com Berta Ribeiro Artur. Do casamento teve quatro filhos.

CARREIRA ACADÉMICA

Frequentou e concluiu o Colégio Militar a 23 de Julho de 1911. Frequentou a Escola Politécnica de Lisboa.

CARGOS DESEMPENHADOS ATÉ À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Alistou-se como voluntário no Regimento de Cavalaria 2, em 1911. Como 1º. sargento-cadete tira o curso de Cavalaria na antiga Escola do Exército, ingressando posteriormente na Aeronáutica Militar.

Tira em 1917 o curso de piloto militar, na Escola de Aviação francesa, em Chatres, sendo na altura promovido a tenente.

Em Março de 1922, exerce as funções de instrutor de pilotagem, como capitão piloto aviador. Em 1926, colocado na Aeronáutica Militar, é nomeado director da Divisão de Instrução da Escola Militar, cargo que exerce até 1929. Voltando a exercer a mesma função em 1932, e também em 1939, por períodos curtos.

Em 1930, como major, exerce as funções de chefe da Repartição do Gabinete do governador-geral da Índia.

De 1933 a 1934 ocupa a chefia do Gabinete do governador-geral da Índia, cargo que volta a exercer alguns meses em finais de 1936. É, em 1934, governador interino do distrito de Damão, cargo mais tarde confirmado com as atribuições de intendente. Sendo mesmo encarregado do Governo-Geral da Índia em 1936.

Em 1939, como tenente-coronel, comanda a Base Aérea de Tancos.

Em 1943, tira o curso de Altos Comandos e é chamado para o Instituto de Altos Estudos Militares com funções docentes.

De 1944 a 1950, exerce as funções de comandante-geral da Legião Portuguesa.

De 1945 a 1949 é eleito, pelo distrito de Coimbra, representante na Assembleia Nacional, cargo que acumula com o de comandante da Base Aérea da Terceira.

Em 1945, é promovido a brigadeiro. Em 1949, é promovido a general. Em 1951, é nomeado comandante da 3.ª Região Militar, cargo que acumula com as funções docentes no Instituto de Altos Estudos Militares. A 21 de Julho de 1951, é eleito para a Presidência da República.

O seu mandato terminou em Julho de 1958, apesar de ter intenção de se recandidatar. No entanto, a União Nacional apoia Américo Tomás.

ELEIÇÕES

Disputou a campanha eleitoral indicado pela União Nacional.

Pela oposição democrática e republicana concorreu o almirante Quintão Meireles.

Pelo Partido Comunista apresentou-se o professor Ruy Luís Gomes. Este último foi considerado sem idoneidade, portanto não elegível, pelo Supremo Tribunal, ao abrigo da Lei n.º 2048, de 11 de Junho de 1951, que introduziu novas alterações ao texto constitucional de 1933.

O almirante Quintão Meireles desistiu. Foi forçado a retirar a sua candidatura na véspera das eleições.

Não houve pois opositores à eleição, tendo Craveiro Lopes ganho com cerca de 80 % dos votos feitos.

PRINCIPAIS OBRAS PUBLICADAS

Não publicou nenhuma obra específica.

Da sua autoria é apenas conhecido o prefácio escrito para a obra de Manuel José Homem de Mello, Portugal, o Ultramar e o Futuro, Lisboa, edição do autor, 1962.

Recentemente foram publicadas Cartas de Salazar a Craveiro Lopes 1951-1958, introdução e coordenação de Manuel José Homem de Mello, Lisboa, Edições 70, 1990.

Um homem em cuja família se respirou os ares militares.

Uma tradição mantida desde o século XIX. O bisavô e o avô tinham sido ilustres militares. Seu pai também o foi.

Com uma família de militares, era natural que Francisco Higino Craveiro Lopes seguisse também a carreira das armas.

O nome de Craveiro Lopes como um homem a ser indigitado para a Presidência da República surge por um mero acaso. Procurava-se um sucessor para o marechal Carmona, num momento político de melindre. Os militares estavam inquietos e a oposição também. Já se punha com alguma frequência a substituição de Salazar.

Craveiro Lopes era, na altura, um ilustre desconhecido com uma folha de serviço exemplar, de grande integridade pessoal, leal e isento de manipulação política. Visto pela óptica do regime, Craveiro Lopes, talvez fosse o homem ideal para reunir em torno da sua figura o consenso das oposições.

Candidato proposto pela União Nacional, acabou por ser o único candidato à Presidência, já que Ruy Luís Gomes seria rejeitado e Quintão Meireles desistiu antes das eleições.

Ao ser eleito nada fazia prever que esta Presidência acabasse por ser problemática, um verdadeiro estorvo, para o regime. Os problemas surgiram desde o início.

Entre Craveiro Lopes e o presidente do Conselho as relações foram sempre frias e formais. O feitio das duas personalidades nunca poderia produzir relações amistosas. Poderia, no entanto, ter havido alguma empatia o que nunca se verificou.

Craveiro Lopes com o decorrer dos anos vai-se sentindo cada vez mais humilhado e vexado. Os discursos eram modificados, os projectos recusados ou protelados, as convocações da Presidência ao Governo ignoradas.

Era uma personalidade que não estava habituada a ser apenas um elemento decorativo, a desempenhar um papel passivo, sem uma actuação directa e visível. Como militar fora habituado a agir.

Marcelo Caetano na sua obra Minhas Memórias de Salazar ao analisar a personalidade do Presidente refere que este não tinha sido talhado para aquele tipo de funções. Funções de um moderador, sem iniciativa, sem papel governativo. Um mero símbolo da unidade nacional e de guardião das instituições.

A oposição, por seu lado, foi-se acercando do Presidente.

Com Craveiro Lopes foi nascendo a esperança de mudança.

Por meio de cartas, pedidos de reuniões, audiências davam-lhe conta do que se passava no País. Veiculavam a questão da censura, da falta de liberdade de reunião, da questão do sufrágio, etc.

Do outro lado, o regime não pretendeu nunca um Presidente que quisesse exercer actividade governativa, ou que quisesse ter um papel activo. A situação foi-se tornando demasiado perigosa. Era necessário dar-lhe uma solução, antes que estivesse fora de controlo. Assim, o regime foi passando, a pouco e pouco, uma imagem negativa da personalidade de Craveiro Lopes, de forma a que pudesse ter justificação a sua substituição, em altura propícia.

Foi dando uma imagem do Presidente de inflexibilidade, de rigidez, de inacessibilidade. Acabou por ser conectado com a oposição ao regime, um homem disposto a substituir Salazar. Para passar esta última ideia Mário de Figueiredo foi o homem ideal ao fazer circular uma conversa, dita particular, que Craveiro Lopes teria tido com ele.

O ano de 1958 chegou. As eleições presidenciais também, tal como previsto pela Constituição.

Craveiro Lopes ambicionava um segundo mandato e Humberto Delgado afirmaria mesmo que não concorreria se o Presidente o fizesse.

A União Nacional, no entanto, escolheu Américo Tomás. Craveiro Lopes é afastado.

Recebe a distinção do macharelato ainda em 1958. Uma forma de compensação? Talvez! Ou uma forma de exigir lealdade? De qualquer forma era distinção atribuída aos Presidentes da República. No entanto, o seu envolvimento na tentativa de golpe militar de 13 de Abril de 1961, é a manifestação concreta do seu inconformismo.