Ao tomar conhecimento do falecimento do Coronel Manuel da Costa Braz, apresento à família enlutada as minhas condolências, em meu nome pessoal e em nome do povo português.
Manuel da Costa Braz foi um português de excepção, que amava o seu País e sempre sonhou com um Portugal mais livre e mais democrático, em que a conduta das entidades públicas se pautasse pelo escrupuloso respeito das regras éticas de transparência e dos direitos e das liberdades dos cidadãos.
Militar de Abril, foi um dos redactores do Programa do Movimento das Forças Armadas e, mais tarde, do «Documento dos Nove», textos essenciais para a consolidação da nossa democracia e da nossa sociedade livre e plural.
Após a Revolução, desempenhou os mais relevantes cargos na vida pública portuguesa, destacando-se como primeiro Provedor de Justiça e como Ministro da Administração Interna.
No exercício destas últimas funções, coube-lhe a exigente e complexa tarefa de organizar o primeiro processo eleitoral livre e democrático da História portuguesa, o sufrágio dos Deputados à Assembleia Constituinte que representou o acto eleitoral mais participado de toda a nossa democracia.
Durante dez anos, entre 1983 e 1993, exerceu funções como Alto-Comissário contra a Corrupção, e aí, uma vez mais, avultaram a sua profunda dedicação à causa pública, o rigor dos seus princípios éticos e, bem assim,. a discrição que é timbre dos homens dignos e conscientes de que ao seu País sempre deram o melhor de si, sem olhar a cargos nem recompensas.
Manuel da Costa Braz foi um português conhecido pela verticalidade de carácter e pelo seu sentido patriótico do dever, que deixa um rasto de enorme saudade em todos quantos o contactaram de perto e tiveram o privilégio de o conhecer.
Com o seu falecimento, desaparece uma das figuras marcantes da génese da democracia portuguesa, um militar e um cidadão a quem o País tanto deve e cujo exemplo de vida deve ser conhecido e cultivado pelas gerações mais jovens.
Marcelo Rebelo de Sousa