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Presidente da República lamenta a morte de José Bento

Manifesto o meu pesar pelo falecimento do poeta e tradutor José Bento. Próximo de outros autores da sua geração, nomeadamente numa abertura a temas especulativos ou metafísicos, e ligado a relevantes revistas literárias das décadas de 1950 e 60 (“O Tempo e o Modo”, “Árvore”, “Cassiopeia”, “Cadernos do Meia-Dia”, “Eros”, “Sísifo”), ficou conhecido como o grande tradutor português da poesia espanhola.

Embora tenha traduzido o “Quixote”, Ortega y Gasset, Borges ou Javier Marías, é inevitável destacar os seus trabalhos no âmbito da poesia: antologias do «Siglo de Oro» e dos contemporâneos, traduções de Quevedo, Góngora, S. João da Cruz, Jorge Manrique, Santa Teresa de Ávila, Gustavo Adolfo Bécquer, Antonio Machado, Lorca, Cernuda, Aleixandre, Alberti, Gil de Biedma ou Brines, versões que fazia sempre acompanhar de escrupulosos prefácios e notas, e que lhe valeram prémios portugueses e espanhóis, como a Medalla de Oro al Mérito de Bellas Artes ou o Grande Prémio de Tradução Literária APE, além da Ordem do Infante D. Henrique. E aos escritores espanhóis devemos acrescentar os hispânicos, pois José Bento traduziu igualmente Neruda, Vallejo ou Octavio Paz.

Esta colossal e incansável devoção ao cânone de língua espanhola, que fez dele um dos mais reconhecidos tradutores portugueses, deixou um pouco na sombra a sua atividade poética, durante muito tempo dispersa em publicações periódicas ou esquecida em edições de circulação restrita, mas que ganhou um reconhecimento mais alargado aquando da primeira reunião da obra poética, “Silabário” (1992). Uma obra que nos revelou ou relembrou este poeta denso, intertextual, meditativo, e fiel até ao fim a uma missão e a uma rara discrição.