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É tempo de assumirmos Wiriyamu

Passaram hoje cinquenta anos sobre o Massacre de Wiriyamu.

Assim findava o ano de 1972, ano determinante para a queda da ditadura. Em 1971, ficara patente o bloqueamento institucional do regime com a frustrada revisão da Constituição de 1933. Em 1972, a manutenção da Chefia do Estado, a aceleração da rotura da Ala Liberal, o crescendo dos movimentos de Oposição Democrática, estudantis, económicos e sociais, vários deles já de ação armada, e o distanciamento de setores católicos – culminando na vigília da Capela do Rato – aceleravam esse período terminal. Em Africa, o agravamento da situação na Guiné-Bissau, que não pararia com o assassinato de Amílcar Cabral, e em Moçambique anunciavam os dias do fim.

Wiriyamu foi um sinal do desespero nesses dias do fim. No modo como abalou toda a clássica argumentação da posição oficial do poder de Lisboa, bem como a alegada legitimação do regime e da situação colonial. A afrontosa violação dos direitos humanos, a escala em que se processou e a frustrada tentativa de a ocultar – com o qual lidamos, os que, na imprensa censurada, recordamos esses tempos – deixaram sem chão o Poder de Lisboa, atingiram os responsáveis militares em Moçambique, alertaram ainda mais militares combatentes e criaram um foco decisivo para o cada vez mais próximo Movimento dos Capitães.

Interna e externamente, Wiriyamu em si mesmo e no conhecimento posterior dos seus contornos – foi um golpe mortal para a ditadura e para a sua política africana e uma afronta intolerável para as nossas Forças Armadas e para Portugal.

É tempo de assumirmos em plenitude o que foi a inaceitável e terrível obra de alguns, mas acabou por responsabilizar, como um todo, Portugal.