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Presidente da República evoca Carlos do Carmo

Carlos do Carmo foi uma das grandes figuras do fado e da dignidade do fado.

Dignidade do texto, da qualidade do texto, da dicção, do dizer. Dignidade de uma vocação exigente, sem cedências e vedetismos. Dignidade de uma atenção humana, de uma compaixão, uma empatia de «homem na cidade» ao lado dos outros homens e mulheres.

Filho da fadista Lucília do Carmo, lisboeta da Bica, estudou na Suíça, ganhando cedo um cosmopolitismo que nunca contrapôs ao patriotismo. Teve uma vida profissional fora do fado, mas acabou por voltar ao seu mundo familiar, gerindo a casa de fados “O Faia” e atuando ocasionalmente como fadista, carreira que viria a assumir em 1964.

O seu conhecimento direto do fado popular, ligado à sofisticação de um melómano que acompanhava a música do mundo, bem como o seu estilo límpido, levaram a que obtivesse reconhecimento público e crítico logo no primeiro disco que gravou, nas décadas de 1960 e 1970. No Festival da Canção de 1976 foi o único intérprete de todas as canções concorrentes, e no ano seguinte editou aquele que é o mais conhecido dos seus discos com Ary dos Santos, “Um Homem na Cidade”. Com Ary, manteve colaboração fiel e produtiva, que deu origem a fados que nos parecem hoje imemoriais, como «Lisboa, Menina e Moça».

Muitos outros foram os letristas e poetas que musicou, que desafiou para o fado, privilegiando sempre a palavra. Tendo atuado com grande sucesso em palcos de todo o mundo, Carlos do Carmo contribuiu muito para a divulgação internacional do fado, nomeadamente com a participação no filme “Fado” (pelo qual ganhou um prémio Goya), com a campanha pelo reconhecimento do fado como Património Imaterial da Humanidade, e com o Grammy Latino de Carreira que lhe foi concedido em 2014.

Homem do rigor e da generosidade, dedicou-se nos últimos anos a gravar discos e a cantar ao vivo com outros músicos, do fado e de fora do fado. A sua relação com o público, de afeto e respeito mútuos, foi notória até ao fim, no concerto do Coliseu dos Recreios em 2019, onde pude uma última vez aplaudi-lo e congratulá-lo, depois de já o ter feito oficialmente, em 2016, com a atribuição do grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito.

À sua família, e em particular à tão amada companheira de uma vida, Maria Judite, apresento os meus sentimentos de pesar, saudade e gratidão.