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Intervenção do Presidente da República na Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes

Senhor Presidente da Assembleia da República,
Senhor Primeiro-Ministro,
Ilustres membros da família de Aristides de Sousa Mendes,
Excelências,
Portugueses,

Entra, hoje, no Panteão Nacional, Aristides de Sousa Mendes.

Assim partilhando a homenagem Pátria com tão diferentes escritores, como Camões, Almeida Garrett, João de Deus, Guerra Junqueiro e Aquilino Ribeiro. Ou, tão opostos Presidentes da República quanto Manuel de Arriaga, Teófilo Braga, Sidónio Pais e Óscar Carmona.

Todos aqui consagrados antes da Democracia.

Em Democracia, aqui foram acolhidos Humberto Delgado, Amália Rodrigues, Sophia de Mello Breyner Andresen e Eusébio da Silva Ferreira.

O que será que distingue os homenageados de antes da Democracia dos celebrados depois dela?

E o que aproxima tão diferentes consagrados deste tempo democrático?

O que distingue os homenageados de outrora e os de hoje são duas realidades: eram só homens, são hoje homens e mulheres; eram só personalidades das letras e Chefes de Estado, são hoje vultos dos mais variados domínios da vida nacional.

Os tempos mudaram – há mais vida para além da literatura e da política, e mais cidadania do que a dos homens, mostrando a diversidade da sociedade portuguesa.

E o que aproxima os consagrados de hoje?

Dois traços comuns: mudaram a História de Portugal e projetaram Portugal no universo.

Todos eles. Disso mesmo tendo, ou não, o exato entendimento.

Na política, na música, na escrita, no desporto, na diplomacia ao serviço da vida e da liberdade.

Aristides de Sousa Mendes mudou a História de Portugal e projetou Portugal no mundo.

Mudou a História de Portugal nesse momento trágico chamado genocídio, em plena guerra mundial. Porque de genocídio se tratava já na perseguição de comunidades, que haveria de acabar em Holocausto.

Projetou Portugal no universo.

Desde o reconhecimento a um dos justos entre as Nações, em Jerusalém, ao respeito e à veneração na Europa, nas Américas, na África, nas Ásias, onde quer que haja descendentes dos descendentes daquelas e daqueles que ajudou a salvar, ou, ao menos, um punhado de cidadãos do mundo, cultores das Bem-Aventuranças, das Bem-Aventuranças das Igrejas como das Bem-Aventuranças das Luzes, que somam a Razão ao Afeto.

Aqui entrou Aristides de Sousa Mendes e aqui permanecerá até ao fim dos tempos. Se os tempos tiverem fim.

Recordando-nos – nas palavras de Paulo –, que não há judeu, nem romano, nem grego, nem outros mais, isto é, não há raças, etnias, religiões, culturas, civilizações que sejam umas mais do que outras e que não mereçam todas e todos o mesmo respeito da dignidade da pessoa, da sua indestrutível natureza, da sua inexpugnável diferença.

Que se sucedam ou não os modismos de cada época – os valores essenciais não mudam. Essa justiça natural, que nenhuma lei ou ordem iníquas de uma ditadura ou de um ditador podem apagar.

Aristides de Sousa Mendes serviu, com coragem extrema, provação pessoal e familiar, exemplar humildade, esses valores na sua mais notável expressão.

Portugal, curvando-se perante a sua personalidade moral, eternamente grato, hoje e para sempre, o recorda e homenageia.

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