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Presidente da República evoca José Pinho

Em qualquer época, mas sobretudo numa época em que a cultura do livro enfrenta sérios desafios, a existência de livreiros esclarecidos, inventivos e combativos é essencial. E poucos livreiros o foram em tão alto grau, e com um lado saudavelmente aventureiro, lúdico, sedutor, como José Pinho, que pude condecorar há poucas semanas, como reconhecimento do seu mérito e contribuição para a Cultura portuguesa.

Fundador da Ler Devagar, primeiro no Bairro Alto, e com várias outras encarnações, e há vários anos no espaço emblemático da LX Factory, e fundador do Festival Literário de Óbidos e da Rede de Livrarias Independentes, era impossível encontrá-lo sem que nos contasse mais um projeto, projetos sempre muito ambiciosos mas, no fim de contas, realizáveis.

Com a Ler Devagar, recuperou o infelizmente desusado conceito de livraria de fundos, defendendo, em contraciclo, a diversidade e a pluralidade de géneros literários e a atenção a médias e pequenas editoras; com o FOLIO, apostou no estabelecimento de uma «vila literária», onde as livrarias generalistas e temáticas conquistavam espaço a edifícios antigos; com a RELI, militou pelos editores e livreiros independentes, pelos alfarrabistas, por um ecossistema do livro duramente atingido por vários fatores conhecidos, mas não inevitáveis.

O desaparecimento de José Pinho, afável e estóico mesmo na doença, representa a perda de um dos melhores amigos dos livros e da leitura em Portugal. Que o seu exemplo possa ser prosseguido e favorecido. À família de José Pinho envio os meus sentidos pêsames.

Marcelo Rebelo de Sousa