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Presidente da República evoca Paula Rego

Quando, em Julho do ano passado, estive presente na inauguração da ambiciosa e impressionante retrospetiva de Paula Rego na Tate, em Londres, ficou decidido que acompanharia as versões dessa exposição em diversas cidades europeias. E assim aconteceu, primeiro na Haia, depois em Málaga, num percurso que desejavelmente poderia terminar em Portugal. Num diálogo que tinha já tido um ponto alto quando a visitei no seu atelier, em Londres, em 2016.

Nas cidades pelas quais já passou a retrospetiva, culturalmente tão diferentes umas das outras, a mesma reação, vinda de curadores, críticos, jornalistas, visitantes: a de que se trata de um dos universos mais fortes e singulares da arte contemporânea. A uma figuração convulsa, ao estilo britânico (ou não vivesse a artista há décadas no Reino Unido, em diálogo com as tendências do seu tempo e do seu espaço cultural), juntava-se um outro olhar, um outro imaginário, sombrio e opressivo, ou mítico e indomável, uma visão pessoal, naturalmente, mas uma visão portuguesa. E todas as aproximações à arte e à literatura universais não ficavam completas sem entendermos aquilo que era especificamente português nos quadros ou nos desenhos, fossem histórias infantis, memórias de juventude, arquétipos, traumas ou nostalgias.

Por isso, e porque Paula Rego foi, a par de Vieira da Silva, a nossa artista mais reconhecida internacionalmente, acompanhei-a pela Europa, mesmo que a própria já não pudesse viajar, e testemunhei o poder encantatório e perturbador da sua obra. Noutras exposições já agendadas, essa homenagem continuará, e a maior homenagem seria podermos garantir, através de intervenções de organismos públicos e privados, que uma parte relevante do legado de Paula Rego ficará em Portugal, país onde não vivia há muito, mas que nunca abandonou.

É com grande emoção que apresento à sua família, na pessoa do tão devotado Nick Willing, os meus sentimentos de pesar e de gratidão.