A implantação da República, a 5 de outubro de 1910, trouxe consigo a esperança – nem sempre depois concretizada – de mais liberdade, de mais igualdade e de mais solidariedade. Foi com a I República que Portugal ganhou um ideário de valores que, ainda hoje, mantêm toda a atualidade: a primazia do interesse comum sobre o interesse individual, a importância da participação cidadã, a consagração de liberdades e direitos fundamentais (depois inscritos na Constituição de 1911, justamente considerada como muito avançada para a época), a valorização do pluralismo político e ideológico, a laicidade do Estado e a liberdade religiosa, a democratização e valorização da cultura e da educação como formas de desenvolvimento do país, bem como as relevantes reformas em relação à família e aos direitos das mulheres (ainda que estas tenham tido de esperar mais 20 anos para poderem todas votar).
É, por isso, que é tão importante recordar a nossa História e evocarmos o desassossego dos fundadores da I República que nos interpelaram para a construção de um futuro melhor, para a construção de partidos políticos em que os cidadãos se sintam representados, sem deixar de valorizar a participação cívica, para a importância da boa gestão da coisa pública, de combater a pobreza e as desigualdades sociais e territoriais e, não menos importante, para continuar a apostar na educação como fator de desenvolvimento.
A República e a Democracia estão hoje bem vivas em Portugal, mas para que assim continue precisamos de renovar o nosso compromisso com os seus ideais e os seus valores, sempre com atenção aos novos desafios e à necessidade de estar à altura, na prática política e constitucional, daqueles princípios.